domingo, 25 de abril de 2010

Os Cisnes Vieram do Céu.

Os Cisnes
Vieram do Céu

Eduardo Andrade

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Virtualbooks

© Copyright 2010, Eduardo Andrade

Capa: Kythão
Diagramação: Cao Ypiranga
1ª edição
1ª impressão
(2010)
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autorização de Eduardo Andrade

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Índice

Prólogo / 08
FLORESTA PROIBIDA /11
O ENCONTRO /16
A FUGA /28
O RETORNO /41
UM NOVO DIA /48
EPÍLOGO /59


Esta é uma leitura para crianças de Zero até os 100 anos.

Apollo não sabia que iria viver uma extraordinária aventura, quando foi em direção à floresta proibida. Ele e seus amigos vão contar esta história cheia de sonhos e fantasias. Amarrem os
cintos e Boa Viagem.


PRÓLOGO

Milhares de estrelas pontilhavam o céu, piscando feito uma coroa de diamantes, esmeraldas e rubis, na noite que se aproximava, escura e tropical. Eu saí de casa e me sentei em um tronco de árvore caído na parte que ficava em frente da varanda, que dava acesso a uma estrada de terra branca e batida que apontava em frente, seguindo para o norte. A casinha tosca de madeira ficava no meio de uma floresta cercada por montanhas, bem distante da cidade mais próxima. Eu morava com minha família neste local cheio de magia e vida. Sentado sobre o tronco daquela árvore derrubada pela tempestade, comecei a pensar no que havia acontecido durante o dia... Enquanto meu pai puxava o cavalo que arrastava o arado perfurando os sulcos na terra para o plantio, eu e meus irmãos pescávamos na beira de um córrego cheio de pedras e água cristalina. Conseguimos pescar diversas espécies de peixes... Corvinas, curimatãs, dourados, traíras, surubins etc. Agora, depois de uma longa caminhada de volta para casa, o cansaço havia me alcançado e eu estava quase morto com as pernas doendo e o corpo dolorido e quebrado.
Deitei-me sobre um tronco ressecado, e fiquei olhando para as estrelas. Elas pareciam estar tão perto, que eu imaginava que até podia tocá-las com as mãos.
Fiquei ali deitado, pensando no que poderia haver naqueles pontinhos distantes de luz reluzindo. “Haveria outros mundos lá? Outros lugares parecidos com nossa mãe terra? Com rios cheios de peixes e florestas cheias de animais?”
Minha cabeça pensando tantas coisas... Foi então que percebi uma pequena estrela se movendo... Sentei-me num salto, passei a mão nos olhos para me certificar de que não estava tendo alucinações... dei um beliscão no meu ombro... "Ai doeu", pensei comigo mesmo. A pequena estrela azul continuou a mover-se, aumentando o seu tamanho, sinal de que aproximava-se de onde eu estava. Resolvi pular para trás do tronco de árvore derrubado pela tempestade. Ele era grande o suficiente para esconder e abrigar o meu corpo de menino. As estrelas continuavam a piscar no céu e a coisa, que com certeza não era uma estrela, agora parecia girar sobre ela própria com luzes de todas as cores que piscavam verdes, vermelhas, amarelas, azuis, brancas, prateadas etc. Agora dava para ver com nitidez uma imensa carroça redonda, com o casco brilhando parecendo água, como se estivesse refletindo raios de sol. Senti um arrepio percorrer meu corpo e subir pela minha nuca. Olhei para a porta da minha casa e percebi que estava aberta, havia me esquecido de fechá-la... "E agora”?”Pensei, com o coração batendo desordenadamente. “O que farei?” Enquanto meu medo não me deixava ordenar as idéias, a "coisa", piscando e com um zumbido passou por cima da casa, jogando uma luz clara, feito a luz da lua sobre o telhado e desceu suavemente atrás de umas árvores gigantes que ficavam na entrada da floresta proibida. Eu jamais havia ultrapassado a entrada daquela imensa floresta cheia de árvores gigantes... Meus pais diziam que lá a luz do sol nunca chegava e por isso o seu interior era frio como o sopro da morte. Além dos bichos terríveis que viviam por lá, tais como lobos demoníacos, dragões cuspindo fogo e outros animais mágicos e assombrosos;
Lá vivia também uma bruxa que liderava a tribo das mulheres guerreiras, as temíveis, terríveis e destruidoras — Amazonas — As filhas do fogo e rainhas da floresta.
Todos na cidade tinham medo deste lugar. Era uma lenda que existia desde o inicio dos tempos.



FLORESTA PROIBIDA

Fui para casa e não conseguia dormir direito. Não conseguia deixar de pensar nas coisas que aconteceram, porém resolvi ficar calado e não dizer nada a ninguém... "Vou esperar o próximo dia chegar com o seu sol iluminando a terra e investigo sozinho o que está acontecendo!” — Pensei. A noite não passou, minha cabeça girava. Estrelas, bruxas, mulheres guerreiras, alienígenas, bichos grotescos... Então, finalmente, consegui dormir.
Logo às 7 horas da manhã, pulei da cama e encontrei com meu pai. Deixe-me falar um pouco sobre meu pai, Urano. Todo mundo na cidade gosta dele. Ele é um homem que conhece a natureza profundamente. Praticamente, cura todos os males do povo de nossa cidade vizinha. Conhece todas as folhas e plantas que existem e nossa casa sempre está cheia de pessoas procurando por seus remédios. Com sua sabedoria desenvolvida pela observação, ele descobriu a magia das folhas, raízes e flores que existem na floresta, fazendo poções mágicas que aliviam as dores. E com sua velha sabedoria, ele sempre deixou com seus filhos, eu inclusive, poções que ele dizia que fariam bem em algum momento de nossas vidas. Eu tenho em minha mochila poções para dor de dente, cabeça, estômago e até soníferos para acalmar elefantes.
Logo ao vê-lo pela manhã falei de um modo sorridente e descontraído:
— Bom dia pai. Acho que vou até a casa da minha avó na cidade!
Ele olhou para mim com seus olhos verdes penetrantes e respondeu:
— Apollo, os cavalos estão soltos no pasto, o único que está preso eu preciso consertar a ferradura que está se soltando.
Falando bem rápido eu completei:
— Não, não vou precisar de cavalo, estou disposto a ir caminhando...
Ele virou-se para mim e de um modo tranqüilo, mas preocupado, falou:
— É muito longe, você vai ter que andar muito para ir e voltar, filho.
— Pretendo ficar pouco tempo lá, pai, até o final do dia estarei de volta, ontem a noite falei com minha mãe e ela disse que estava tudo bem. Quando ela acordar, diga-lhe que já parti!
— Cuidado Apollo, dizem que tem um tigre dente de sabre pelas redondezas, é muito perigoso e quase matou o velho Sírio!
Eu meio pensativo e decidido, falei:
— Pode deixar. Eu vou me cuidar da melhor forma possível... Tchau!
Dizendo assim, saí de casa caminhando em direção da cidade. Andando uns três quilômetros, longe da vista de minha casa, voltei por dentro do mato, em direção da floresta proibida. Uma pequena estrada cheia de pedras mostrava que há muito tempo ninguém andava por aquelas bandas... As árvores começaram a ficar grandes, imensas enquanto eu continuava a andar para dentro daquela floresta que aterrorizava toda a população da região.
As folhas das árvores eram de um verde escuro profundo, tudo ali parecia ter olhos que me observavam por todos os lados... Um ligeiro arrepio subiu por minha coluna e eriçou os meus cabelos, senti um frio estranho correr pelo meu corpo.
Olhei para o sol que aparecia vez ou outra por entre os galhos das árvores e pude ver que ele estava forte, porém eu sentia o meu corpo frio... talvez fosse apenas um pouco de medo, sei lá. Quando de repente vi uma borboleta fantástica, sobre uma flor grande e vermelha. Nunca tinha visto uma borboleta tão linda quanto aquela. Suas asas azuis com algumas listras pretas e o corpo com uma tonalidade vermelha e amarela com bolinhas azuis e brancas... era uma verdadeira obra de arte. Então tive vontade de pegá-la... Tirei a pequena mochila das costas e abri. Procurei e achei rapidamente minha rede de pescaria, que com certeza seria a melhor maneira de capturar aquela linda borboleta estranha. Fui em sua direção bem devagar, prendendo a respiração... quando me aproximei e estava apenas a uns dois metros dela, ela bateu suas asas fortemente e saiu voando pelo campo verde e aberto em minha frente. Levei um susto e sai correndo atrás daquela bela espécie... Ia correndo tentando acompanhar aquele lindo exemplar de borboleta... Foi então que cai e saí escorregando por uma ribanceira, arrastando pela grama alta e rolando, parecendo uma bola chutada com força ladeira abaixo. Rolei... rolei..... rolei... e o mundo ficava de cabeça para baixo... e para cima..... e para baixo...e para cima... Então, tudo ficou escuro, como uma noite sem fim. Eu não tenho lembrança de quanto tempo fiquei caído ali, porém quando comecei a recobrar minha consciência, abri os olhos e pude ver que o sol estava alto no céu, meu corpo estava quente e todo dolorido... Passei a mão pela cabeça, ela doía como se alguém tivesse batido uma pedra sobre ela. Olhei minha mão e ela estava um pouco suja de sangue.
Sentei-me na relva e fiz força tentando lembrar o que tinha acontecido. Foi então que olhei para um lado e meu coração começou a bater descompassadamente. Toc... Toc.... Toc... Toc. Os olhos daquele bicho eram horríveis. Um amarelo com preto brilhante e ele roncou.
Toda floresta pareceu tremer com o rugido feroz daquele imenso felino. Meu sangue estava congelado. Olhei devagar para os lados tentando achar um local para correr, fugir, esconder. Nada, só havia uma imensa pradaria me cercando, algumas árvores estavam a mais de cem metros de onde me encontra; eu estava perdido. Com certeza seria o próximo almoço daquela imensa criatura. Olhei mais uma vez para aquele bicho monstruoso e pude vê-lo caminhar lentamente em minha direção... Os músculos de suas pernas se esticavam e avolumavam-se a cada passo, distendendo-se... Ele grunhiu mais uma vez e seu gemido pareceu paralisar toda a floresta. Alguns pássaros voaram adivinhando o que estava para acontecer. Meu cérebro começou a pensar rapidamente. Se eu ficasse sentado ali no chão, com certeza seria uma presa fácil para aquele “gato” do mato, faminto. Levantei-me, meus joelhos tremiam, no entanto olhando bem dentro dos olhos daquele bicho, comecei a dar alguns passos para trás. Ele dava um passo para frente em minha direção, eu dava dois passos para trás, me afastando dele rapidamente. Entretanto os passos dele equivaliam a dois dos meus e ficávamos os dois na mesma distância novamente. Foi então que percebi que o bicho ia atacar... Ele abriu a boca rugindo, deixando aparecer uma carreira feroz de dentes brancos e afiados que chegaram a brilhar contra a luz do sol. Dois caninos grandes apareciam nas laterais de sua boca e uma baba espessa escorria até o chão. Eu me ajoelhei bem devagar, enfiei a mão dentro de minha mochila que estava caída ao meu lado, peguei minha zarabatana, rapidamente molhei uma seta no potinho de barro cheio de sonífero feito pelo meu pai, introduzi na lançadeira, coloquei minha boca na embocadura e soprei com força em meu alvo. A pequena seta saiu com uma velocidade espantosa e acertou a ponta do nariz daquele portentoso animal. Ele deu um urro de dor e começou a esfregar a ponta do nariz com sua imensa pata...
Neste momento, eu comecei a correr... Só pensava em correr até alcançar as árvores... Corri... Corri... Corri.. Chegando próximo a primeira árvore, olhei para trás e não vi mais o bicho. Entretanto, para minha surpresa, de relance, vi um vulto escuro, enorme, voando em minha direção... Percebi os dentes de sabre afiados saindo da boca do bicho, era o tigre sedento de sangue. Um segundo depois, um pequeno gatinho caiu nos meus braços. Olhei sem entender nada... Aquele gatinho tão pequeno e inofensivo em minhas mãos. Na verdade ele parecia com o bicho que havia me atacado a pouco, porém o seu tamanho era de um filhotinho... Assim, meio sem entender, mal percebi quando ele pulou de minha mão para o chão e saiu correndo assustado, para se esconder na folhagem espessa que compunha a floresta. Uma grande mata fechada ao meu redor.


O ENCONTRO

Ainda meio atordoado com tudo e sem saber direito o que estava acontecendo, sentei-me no chão. Naquele instante, ouvi uma voz de menina, me perguntando:
— Oi, tudo bem?
Olhei assustado, tentando descobrir de onde vinha aquela voz. Olhei para um lado, para o outro e vi sobre as folhas de uma palmeira, equilibrando-se, uma linda borboleta.
Lá estava aquela maravilhosa borboleta azul com a ponta das asas pretas, balançando ao sabor do vento.
De repente, a borboleta começou a se transformar... Meio estupefato, passei as mãos sobre os olhos e me perguntei se estava sonhando ou tendo uma alucinação.
Não, eu estava acordado e o que estava acontecendo era real. A borboleta começou uma metamorfose estranha, aumentando o tamanho e se tornando uma coisa, primeiro estranha, disforme, e depois, os braços... a cabeça...os ombros...pernas..pés...mãos, enfim, um ser humano.
Em alguns segundos, ela tinha se transformado completamente em uma menina. Uma linda menina. Fiquei ali sentado com a boca aberta, pasmo, o coração aflito e o sangue correndo, me enchendo todo de adrenalina.
— Oi, você está me ouvindo? — A garota perguntou.
Tentando parecer normal, porém me sentindo como se estivesse em um sonho, respondi:
— Sim... tudo está bem... estou te ouvindo... Quem é você?
Ela me olhou com os olhos profundamente azuis. — Eu podia ver estrelas dentro daqueles olhos. Seus cabelos eram dourados feito o sol. Sua pele branca igual à luz da lua. Era uma garota diferente de todas que eu já tinha visto.
— Meu nome é Electra. Cheguei a pouco com minha família...
Eu completamente extasiado, sem deixá-la completar a frase, falei:
— Mas você a pouco era uma borboleta... aquela borboleta que eu tentei pegar quando entrei aqui nesta floresta! Quê tipo de gente é você?
Dizendo assim, eu pensei que com certeza, eu tinha acabado de encontrar o povo que tinha chegado do espaço.
— Nós somos umas famílias de mágicos — ela disse de um jeito suave — Estamos aqui para trazer mais alegria para o povo de sua cidade!
A transformação que você presenciou nada mais é que uma mágica antiga. Fazemos outras mágicas, mais novas e mais impressionantes...
Eu fingi acreditar... E então falei:
— Que ótimo! Vocês estão aqui para nos alegrar...
— Sim — ela disse.
— Qual é o seu nome?
Ela perguntou e eu respondi:
— Meu nome é Apollo.
— Belo nome o seu... E você também é um menino bem bonito!
Quando ela disse isto, fiquei sem graça e senti meu rosto ficar quente e enrubescido.
Com certeza eu estava tão vermelho quanto um pimentão. Nunca nenhuma menina tinha falado assim comigo, bolas! Comecei a me levantar do chão, fiquei de pé, e senti meio zonzo. Lembrando-me do que tinha acabado de acontecer, falei agradecido:
— Obrigado por você ter transformado aquela imensa fera em um gatinho, um filhotinho de tigre...
— Nada, — ela disse — Foi apenas mais um truquezinho que aprendi com minha família... Vamos, venha comigo. Vou te levar até onde minha família se encontra....
Eu tentando tirar o máximo de informação dela, perguntei:
— Mas o que você e sua família vieram fazer aqui no meio desta floresta perigosa? Vocês poderiam ter ido direto para a cidade, apresentar suas mágicas!
Ela por um momento, parou, pensou e respondeu:
— Sim, poderíamos ter ido, porém meu pai teve que trazer nosso cavalo que morreu, para enterrar aqui, nesta floresta... Ele morreu de velho e os cavalos gostam de ser enterrados no meio das florestas. Só assim eles podem ter o espírito livre para sempre. Para voar junto com as nuvens.
Fingi entender, e começamos a caminhar. Eu estava meio perdido e atordoado, não sabia para onde estava indo.
"Para onde ela estaria me levando?", perguntei-me mentalmente. Foi então que comecei a perceber que algumas árvores naquela mata pareciam mover-se. Ela olhou para mim com os seus lindos olhos azuis e disse:
— Parece que estamos metidos em um grande problema... Você percebeu que estamos sendo cercados?
Eu respondi:
— Estou notando que as árvores e as folhas estão se movendo, como se estivessem vivas...
Ao dizer assim, ouvi um grito bem alto em uníssono.
— IAHAHAHAAAA...
Quando olhei em volta, centenas de mulheres nos cercavam. Eram morenas, loiras, ruivas, brancas, negras, índias, pálidas... Todas vestindo roupas de couro. Algumas segurando lanças, outras com arco e flecha, algumas penduradas nas árvores parecendo macacos, algumas feias, horríveis, outras bonitas, porém, todas tinham um jeito agressivo e selvagem de animais dispostos a guerrear.
Elas usavam saias curtas de couro marrom, deixando grande parte das pernas fortes de fora, e algumas tiras grossas de couros crus, cruzavam a extensão de seus seios, prendendo-os. Todas carregavam uma sacola com flechas, dependurada nas costas. Todas tinham pequenas tiras de couro amarradas na testa prendendo os cabelos. O modo delas se vestirem era semelhante. Era como se fossem um exército de mulheres uniformizadas, prontas para a batalha final.
Usavam facas de cabo de osso amarrada na cintura e tinham dois riscos pintados de preto nas bochechas, o que as faziam parecerem mais primitivas ainda. Eu e minha amiga que veio do céu, ficamos ali parados, imóveis, apenas observando-as em volta, feito formigas no pote de mel. O pior é que o mel éramos nós.
Apesar da circunstância, eu estava tranqüilo e sem medo, talvez por confiar em minha amiga que tinha vindo das estrelas. Nisto percebi que uma das mulheres se adiantou e disse com a voz rouca e forte:
— Quem são vocês? O que estão fazendo aqui em nossas terras? Vocês não sabem que é proibido andar pela terra das amazonas? Por causa desta desobediência, vocês sofrerão o que nenhum dos mortais, gostaria de sofrer.
Dizendo assim, elas avançaram em nossa direção. Fui golpeado na cabeça e senti o mundo escurecendo, escurecendo e escurecendo.. E a noite caiu sobre mim, novamente.
Acordei balançando de um lado para o outro. Agora era noite de verdade, havia milhões de estrelinhas dependuradas piscando no céu, estava fazendo frio. Levantei-me, olhei em volta, vi minha amiga deitada bem próximo de mim, estávamos em uma espécie de gaiola de madeira, sendo carregados nas costas das mulheres que haviam nos aprisionado. Fui até perto de minha amiga, passei a mão pelos cabelos dela, sua fronte estava pulsando.
Falei bem baixinho:
— Oi Electra... Electra... Está me ouvindo?
Ela não respondeu... Então senti que as mulheres tinham parado para descansar e tinham colocado a gaiola em que estávamos no chão. Rapidamente eu me deitei e fingi que ainda estava inconsciente.
Algumas mulheres tinham uns archotes com a chama tão bruxuleante, que a cada sopro do vento noturno, jogavam sombras grotescas pelo chão e na mata que nos cercava, parecendo fantasmas brincalhões, querendo me assustar. Havia uma meia lua no céu, que mal dava para iluminar o caminho e a clareira que agente estava. Deitado no chão de madeira da gaiola, abri os olhos bem devagar e pude notar que algumas mulheres estavam passando água nos cabelos à beira de um rio. Dava para perceber também o barulho da correnteza e possivelmente ali perto existia uma cachoeira por causa do golpe forte de água na água. Ouvi passos sobre as folhas caídas no chão e uma batida na madeira da gaiola. Fingi que tinha acabado de acordar tentando fazer transparecer que havia terminado de recobrar os sentidos, exatamente naquele momento. O barulho que eu tinha ouvido foi o de um jarro feito de barro, que uma das mulheres tinha enchido de água e deixou para agente beber. Levantei-me, fui até o jarro, levantei-o e derramei a água em minhas mãos, bem devagar. A água estava deliciosamente gelada. Levei o jarro com as duas mãos, acima do nível de minha cabeça e despejei um jorro de água em minha boca sedenta. Bebi, sentindo a água gelada escorrendo pelo meu queixo e caindo sobre o meu peito, matando minha sede.
Fui com o jarro até próximo a minha amiga, tirei minha camisa, encharquei com aquela água, e comecei a passar pelo seu rosto.
Ela começou a voltar a si. Abriu os olhos azuis, que apesar do pouco brilho da lua, estavam iluminados, como se tivessem luz própria.
— Oi, onde estamos? — Ela me perguntou.
Em uma resposta muda, levantei os ombros e franzi a testa balançando a cabeça negativamente. Ela começou a se sentar e eu disse:
— Beba um pouco de água para se recuperar, está deliciosa!
Ela com a voz fraca, pediu:
— Jogue um pouco desta água em minha cabeça.
Segurei o jarro e comecei a despejar em seus cabelos. Ela parecendo estar melhor, tomou-o das minhas mãos com firmeza e levando-o aos lábios, sorveu profundamente toda a água que ainda existia, bebendo até a última gota.
As mulheres da floresta voltaram a se reunir e senti que a gaiola de madeira onde estávamos aprisionados foi erguida novamente e começamos a andar, balançando de um lado para o outro. As mulheres conversavam agora numa espécie de dialeto desconhecido, cheio de murmúrios e zumbidos estranhos. Umas falavam mais alto, mais exaltadas outras em tom mais baixo de forma desordenada. Minha amiga depois de beber água, deitou-se no chão de madeira e ficou olhado para o céu.
Nisto o dia começou a clarear, o sol dava sinal de vida depois de uma longa noite de ausência. Os primeiros raios dourados começaram a despontar ao leste. Levantei-me da gaiola e olhei por entre as grades de madeira. Agora o cenário era completamente diferente daquele em que nos encontrávamos há pouco. Estávamos passando em uma estrada rochosa. Eu olhei para cima, um paredão formado de pedras se erguia em direção ao céu.
A minha direita, um rio caudaloso deixava ver as corredeiras de águas esbranquiçadas, fazer o seu caminho por entre rochas pontiagudas. Era um cenário espetacular. Minha amiga Electra despertou e chegando próximo de onde eu estava, perguntou com sua voz suave:
— Onde será que elas estão nos levando?
Eu balancei a cabeça e disse:
— Não faço a mínima idéia!
Depois de caminharmos mais ou menos uma hora naquela paisagem paradisíaca, começamos a entrar em uma região desértica. O sol começou a queimar inclemente, nossos corpos. Procurei abrigo em uma sombra da madeira que compunha nossa pequena jaula. Minha amiga fez o mesmo. A areia dourada do deserto fazia com que a nossa marcha, agora, fosse mais lenta.
Depois de muito tempo naquela caminhada, começamos a descer uma duna imensa e em frente surgiu um imenso paredão de pedra. Um cânion. Ai as mulheres se puseram em fila indiana. Fomos colocados no chão. Uma das mulheres veio e abriu a porta da gaiola humana. Nós saímos e continuamos a caminhar. Olhei para trás e pude ver aquela imensa fila de mulheres descendo a colina de areia. Quando chegamos próximos de um paredão vi uma pequena ponte feita de corda e madeira. Seguimos. Quando pisei na ponte senti um pouco de medo, a ponte balançava ao sabor do vento. Fui devagar e olhei para trás, minha amiga estava tranqüila e parecia estar restabelecida da sua apatia. Já estávamos no meio da ponte caminhando com cautela, eu olhei para baixo e senti um frio no estômago. O cânion era de uma profundidade abissal. Lá no fundo dava para ver um pequeno rio correndo por entre as pedras.
Eu pensei: “Para cair daqui e sair vivo, só se fosse um passarinho”.
Agora que todas as mulheres caminhavam sobre a ponte de corda e madeira, ela pulava para cima e para baixo, balançando feito um cavalo selvagem, dando coices. Foi assim que percebi que alguma coisa estava errada, a ponte estava balançando demais. Algumas amazonas já haviam cruzado a ponte.
Eu e Electra já estávamos quase chegando à terra firme. Nisto ouvi um estouro e a ponte rebentou. Segurando firme nas cordas enfiei meus pés por entre as tábuas que faziam o piso e fui arremessado contra o paredão íngreme na encosta da montanha. A ponte havia partido ao meio. Agora, lutando pela vida, eu não sentia medo nenhum. Olhei para trás novamente e vi diversas mulheres caindo no precipício, porém, fiquei mais tranqüilo quando percebi que Electra estava se segurando firme no que restou da ponte. Eu, Electra e algumas mulheres que se salvaram do que restou da pequena ponte, começamos a subir, rastejando pelas cordas e tábuas que sobraram. As guerreiras que atravessaram primeiro, nos lançaram cordas. A primeira corda lançada chegou até onde eu estava; ela tinha um grande laço que eu coloquei logo embaixo do meu braço e fiquei segurando nas cordas que dançavam soltas ao meu redor. Quando olhei para baixo, minha amiga estava se segurando apenas com uma mão no que havia restado da ponte. Percebi que ela estava no limite de seu esforço e neste momento ela se soltou. Mais que depressa deixei meu corpo cair no vazio do espaço, indo em direção de Electra. Por sorte consegui alcançá-la e agarrando-a por baixo dos braços com firmeza, passei minhas pernas em volta de sua cintura, abraçando-a com força. Só aí fomos finalmente içados para um local seguro, pelas mulheres que tinham sobrevivido. Chegando do outro lado, cai com a cara no chão e me levantei com o rosto cheio de areia. Olhei para trás mais uma vez e senti um imenso alivio.
Diversas amazonas haviam ficado do outro lado do precipício, não conseguiram atravessar. Agora deveriam consertar a pequena ponte de corda e madeira; as que haviam caído, com certeza estavam mortas. O sol neste momento já havia cruzado três quartos do céu. A tarde chegava com um amarelo ouro, banhando o horizonte de uma cor púrpura como se pintasse tudo de sangue.
As mulheres guerreiras eram frias, elas não pararam para ajudar suas companheiras que haviam ficado do outro lado do abismo. Elas continuaram a caminhar, cantando uma música triste.
Depois de andarmos muito tempo, e sentindo minhas pernas cansadas e pesadas feito chumbo, chegamos a uma cidade.
Era a cidade das mulheres guerreiras. Pude ver imensas construções douradas. O brilho do sol refletia nas paredes das casas. Aquilo parecia ser tudo feito de ouro. As mulheres nos conduziram para uma praça, que parecia ser o centro da cidade. Deparamos, então, com um belo palácio de escadas douradas, imenso e imponente. Fomos levados até ele. Fomos obrigados a ir subindo as escadas até entrarmos por uma grande porta em estilo romano. Mulheres armadas até os dentes, com lanças, arcos e flechas estavam postadas por todos os cantos. Então uma das mulheres que nos aprisionou, chegou, tirou as nossas amarras e nos fez sentar no chão, dentro de um imenso salão dourado. Passamos algum tempo sentados no chão. Agora havia poucas mulheres, apenas as que faziam o serviço de guarda. Foi então que uma guerreira se aproximou e disse:
— Levantem-se. Agora vocês irão conhecer a nossa majestade suprema. Hermídia, rainha de nosso povo. A deusa que não morre. A primeira filha do criador, rainha dos vivos e dos mortos!
Depois de falar estas bobagens, elas começaram a cantar uma música tão feia que me deixou angustiado. Uma das mulheres guerreiras começou a bater em um gongo dourado com um grande martelo. Aliás, por ali tudo era dourado. Tinha apenas tapetes vermelhos por aonde íamos pisando. Fomos conduzidos para outro ambiente.
Quando entramos, vimos umas escadas que levava para o alto de um trono. O trono era todo decorado com motivos de gatos e no centro, atrás do encosto, a escultura de um grande tigre de bengala com dentes de sabre, que nos encarava soberano. Duas mulheres guerreiras que nos escoltavam, ajoelharam-se e nos forçaram a fazer o mesmo. Uma grande porta foi se abrindo, recolhendo-se para dentro da parede. Uma mulher velha vestida de preto foi surgindo, acompanhada por centena de gatos. Havia gatos de todas as cores. Ela veio andando e um tapete de gatos veio arrastando-se atrás dela. Ela subiu cerimoniosamente no trono e sentou-se. Os gatos, como se fossem ensinados postaram-se em volta do trono. Parecia que todos sabiam os seus devidos lugares. Nisto ela disse com uma voz rouca e aguda:
— Levantem-se!
Ficamos imediatamente de pé.
Ela continuou a falar, olhando para as mulheres que nos acompanhavam:
— E vocês, retirem-se!
As duas mulheres fizeram uma ligeira inclinação de cabeça e saíram da sala. A velha com uma voz fina e rouca, nos perguntou:
— O que estas belas criancinhas estão fazendo em meu reino? Podem me dizer?
Eu olhei para minha amiga Electra, ela estava branca feito mármore e me disse:
— Estou passando mal, estou fraca, estou ficando doente.
Falando assim com a voz bem sussurrada ela desmaiou.
E a velha perguntou:
— O que aconteceu com ela?
Eu me ajoelhei ao lado de Electra e respondi:
— Não sei, talvez seja apenas cansaço!
A rainha das guerreiras levantou a mão, pegou um sino ao lado do trono e começou a badalar. Imediatamente, diversas mulheres entraram na sala.
— Peguem-na, vejam o que ela tem. Eu preciso dela sadia e forte para alimentar os meus lindos gatinhos!
As mulheres levantaram Electra com facilidade e a retiraram da sala. A velha continuou:
— E você belezinha, até agora você não disse o que estava fazendo em meu território! Por acaso vocês não sabiam que esta é uma terra proibida a estranhos?
Eu comecei a balbuciar:
— Eu fiquei perdido na floresta, eu estava caçando borboletas e entrei sem querer em suas terras.
— E sua amiga. O que fazia?
Eu balbuciando ainda mais, continuei:
— Ela estava comigo, nos perdemos...
A velha deu uma sinistra e sonora gargalhada.
— Vocês sabem que arrumaram uma tremenda confusão, não é? Vocês vão pagar com o mais precioso que vocês têm. Sabe com quê, menininho? Suas vidas! Vocês vão ser a ração viva de meus estimados gatinhos. Não é meus gatinhos?
Os gatos parecendo entender começaram a miar em uníssono.
E novamente a velha emitiu uma grande gargalhada que ficou ecoando em meus ouvidos. O rosto da velha era magro e no centro um grande nariz pontiagudo com uma enorme verruga negra cheia de cabelos. A boca, quando ela riu, deu para perceber que faltavam a maioria dos dentes.
Toda aquela feiúra coberta por cabelos brancos e com um chapéu pontiagudo, era realmente assustadora.
Ela agora falou berrando:
— Peguem-no, levem-no para o calabouço, junto com sua amiguinha doente.
Duas mulheres me pegaram e foram me empurrando para fora da sala. Fui levado por corredores sombrios, um verdadeiro labirinto. Mas pelo menos eu estava longe daquela coisa horrível.
Hermídia, rainha das mulheres guerreiras, e dos gatos, também.



A FUGA

Depois de andarmos por muito tempo, chegamos a uma sala ampla onde havia uma grande porta robusta de madeira e ferro. A porta foi aberta e eu fui atirado para dentro. Cai no chão frio e a porta foi fechada. A escuridão era total, ficar com os olhos abertos ou fechados dava no mesmo. Fechei os olhos para ver se acostumava com a escuridão. Quando abri os olhos novamente, nada. Apenas a profunda escuridão. Levantei-me devagar e fui andando sem direção até encontrar uma parede e ir tateando por ela. Minhas botas de couro quando eu caminhava faziam barulho.
Nisto ouvi uma voz masculina, perguntar:
— Quem está ai?
Respondi:
— Sou eu, Apollo.
A voz novamente ecoou naquela câmara escura e fria:
— Acho que conheço sua voz.
Cheio de agonia, falei:
— Gostaria de conversar depois, já não suporto mais esta escuridão, está me dando desespero, você tem alguma luz ai?
— Sim filho, eu já estou algum tempo aqui dentro e descobri um pequeno buraco na rocha ali em cima. É apenas um filete da luz do sol, mas dá para clarear o suficiente. Aguarde um pouco que eu vou destampar o buraquinho. — disse a voz.
E ai como mágica, Fiat Lux (do latim: Faça-se a luz), e a luz entrou radiante iluminando o suficiente para eu visse o rosto daquela voz e também Electra, minha amiga das estrelas, desmaiada no chão. Fui me aproximando daquele rosto, barbado e abatido. O dono da voz soturna era gigante, uns dois metros de altura, cabelos negros e compridos, caídos sobre os ombros. Alguma coisa fazia-me reconhecê-lo. Ao chegar bem próximo, percebi quem era e exclamei:
— Órion o caçador... é você? Na cidade todos pensam que você está morto!
Ele falou:
— Não filho, ainda estou vivo. Não sei até quando, mas ainda estou vivo. Fui capturado enquanto caçava e desviei da rota, entrando na floresta proibida. Como está sua família?
Todos bem?
— Sim, tudo bem.
Ele era um velho amigo de meu pai e eu continue falando:
— Só tenho um problema, ali no chão está minha amiga Electra vamos ver o que podemos fazer por ela?
— Sim, vamos. — Disse ele.
Fomos aproximando dela e ajoelhamos ao seu redor. Coloquei minha mão em sua testa que estava fria. Nisto ela abriu os olhos. Os olhos dela realmente eram diferentes, tinham uma luminosidade extrema, era como se tivessem luz própria.
Órion ao ver aquilo, falou surpreso:
— Olhe, os olhos dela não são humanos!
Eu disse:
— Calma, Órion. Deixe-me apresentá-la, ela é minha amiga.
Electra olhou para nós dois e perguntou:
— Onde estamos?
— Presos! — Eu disse sem pestanejar.
— E você está melhor? — Completei.
— Sim, eu acho que é aquele material amarelado que me rouba as forças!
Eu bem calmante, falei:
— Pode ser. Toda vez que você fica perto do chão dourado, das paredes douradas ou qualquer outra coisa dourada, você fica fraca e desmaia. Tudo deve ser feito de ouro e este metal é que deve lhe roubar a energia.

Ela já recobrada concordou:
— Penso que sim.
De uma forma firme e sincera, ela com um olhar dominante, falou:
— Bem, agora já estou cansada desta aventura; Vou entrar em contato com minha família e eles virão nos resgatar o mais rápido possível!
Dizendo assim, enfiou a mão no bolso da calça cinza metálica e pegou uma pequena coisa parecendo uma pedra quadrada.
E num passe de mágica a coisa acendeu clareando todo local em que estávamos.
Tudo ficou claro feito o dia. Eu olhei para Órion com os olhos arregalados e ele também estava surpreso feito eu. A pequena coisa emitia um ruído, bip, bip, bip. Electra começou a conversar com aquela coisa.
— Oi, estão me ouvindo? — Ela disse.
Então a coisa respondeu:
— Oi, é você Electra? Onde você está?
— Não sei onde estou. Fomos presos — Ela respondeu.
E a pedrinha quadrada continuou a conversar:
— Deixe o aparelho ligado que nós vamos rastreá-la, certo?
Nisto a porta de nossa cela foi aberta violentamente. Electra imediatamente fez o fogo da coisa se apagar e a escondeu. Duas mulheres surgiram com três pratos e uma jarra de água. Elas largaram os alimentos no chão e saíram sem dizer sequer uma palavra.
Estávamos com muita fome. Fomos em direção dos alimentos e começamos a comer. Eram frutas tropicais. Estavam deliciosas.

Ao terminarmos, sentamo-nos no chão e perguntei:
— Electra, seus amigos virão nos libertar?
— Sim, eu preciso deixar meu comunicador ligado para que eles possam nos localizar. Dizendo assim ela buscou a sua pedra iluminada no bolso e quando tentou acioná-la novamente falou:
— Parece que está havendo algum problema de comunicação com o meu aparelho! Não está funcionando agora.
Ficamos abatidos.
— Não existe nenhuma chance de escaparmos?— Perguntou Órion.
— Estava funcionando até pouco tempo, o que será que houve?— comentou Electra. Ficamos sem responder, pois nem mesmo conhecíamos aquilo.
Mantivemo-nos em silêncio e pensativos por algumas horas.
Eu sempre fui otimista e depois de elaborar um plano em minha cabeça, falei confiante:
— Bem, já que estamos mesmo perdidos, vamos ter que usar as unhas e os dentes para tentarmos uma fuga.
— Como? — Perguntou Órion.
— Vou tentar chamar a atenção da guardiã da nossa cela, tenho um restinho de sonífero em minha mochila e assim que eu tiver uma chance, vou tentar injetá-lo em nossa guardiã.
— Temos que tentar de tudo. — Concordou Órion.
Eu assumindo a responsabilidade pela tentativa de escapar, falei:
— Você Electra, deite-se no chão, eu vou gritar dizendo que você está morrendo, certo? Sem perder tempo, Electra imediatamente deitou-se e eu comecei a gritar feito um louco. Um instante depois a mulher que fazia a guarda de nossa cela, abriu a porta pesada e entrou com uma lança nas mãos.
Eu postado atrás da porta, pulei no pescoço dela e enterrei minha pequena seta com sonífero bem próximo de sua orelha. Ela brigou por alguns minutos me balançando para lá e para cá, porém eu estava agarrado com tanta força em suas costas que só cai quando ela desabou no chão, inconsciente.
Sacudindo a poeira, levantei-me e disse:
— Vamos pessoal, temos que sair daqui o mais rápido possível!
Orión olhou para um lado e para o outro, foi correndo até um canto, pegou seu chapéu marrom e um cantil, que estavam caídos no chão. Nós três saímos pela porta do calabouço e descemos um imenso corredor escuro até chegarmos a uma caverna. Nesta caverna passava um rio de águas escuras.
— E agora, o que faremos? Electra perguntou num suspiro.
Eu olhando para as águas barrentas, disse:
— Temos que entrar neste rio e nadar; ele em algum momento deve sair desta caverna, com certeza!
Órion balançando a cabeça de forma positiva, falou:
— Concordo com você, vamos nadar, ele deve sair...
Fazendo o sinal da cruz na testa, pulei primeiro, Órion foi logo em seguida e por último, Electra pulou no rio.
A água gelada deu uma energia maior para agente. Fomos nadando junto com a correnteza. Depois de algum tempo quando nossos corpos começaram a esquentar pelo exercício que fazíamos, vimos um paredão enorme bloqueando nossa passagem.
— E agora? — perguntou Órion desanimado.
Eu decidido e sempre confiante, respondi:
— Vou mergulhar. A água deve passar por baixo desta rocha, pois existe correnteza.
Electra falou:
— A água pode estar indo para o fundo da terra.
Sem tomar conhecimento deste comentário, mergulhei indo o mais fundo possível, nisto percebi uma enorme claridade saindo de um buraco que ia de um lado ao outro da caverna.
Imediatamente imergi voltando à tona e olhando para Electra e Órion, gritei:
— Vamos pessoal, vamos mergulhar. Existe um imenso buraco no fundo da caverna! Imediatamente, tomamos o máximo de ar possível e mergulhamos.
Apesar das águas serem turvas, dava para ver meus amigos vindo juntos comigo em direção da cratera na rocha. Nisto fomos sugados pelo redemoinho provocado pela correnteza e tivemos o cuidado de apenas nos direcionar, movimentando braços e pernas, para não chocarmos com as paredes da caverna. Fomos sugados e empurrados pela correnteza com tanta força, que passamos rapidamente para o outro lado, cheio de luz.
A luz divina do sol, onde com certeza era o fim da caverna escura e inóspita. Nadamos com todas as forças possíveis até alcançarmos uma margem segura do rio. Ao alcançarmos a margem, deitamos na areia fina e branca e ficamos descansando sob o sol forte da manhã. Ainda com a respiração ofegante, fiquei olhando para o profundo céu azul com algumas nuvens brancas fazendo desenhos aleatórios sobre nós. O sol forte fazia a vegetação exuberante ficar mais verde e bela. Olhei para meu lado direito, Órion o caçador, estava deitado e também olhava para o céu. No meu lado esquerdo Electra, sentada, tirava a água dos cabelos.
Depois de descansar um pouco, levantei-me e disse:
— Vamos! Temos que ir o mais longe possível daqui.
Levantamo-nos e começamos a caminhar em direção a imensas árvores que estavam em nossa frente. Entramos em uma mata fechada, muitas folhas pelo chão, os troncos das árvores eram milenares, grandes e robustos; cipós caiam em volta como cabelos desgrenhados.
Um pouco cansado e faminto, comentei:
— Estou morrendo de fome, aquelas frutas não saciaram minha necessidade alimentar, estou precisando comer carne!
Elektra um pouco assustada, comentou:
— Carne? Você come carne?
Órion meio desconfiado, falou:
— Sim, as melhores carnes são as de caça, se vocês estão com fome, vamos caçar, esta é minha profissão. Vocês querem saber como se faz para ser um grande caçador?
Apesar de ninguém ter respondido, ele continuou:
— Primeiro mandamento de todo bom caçador: Ter um chapéu de couro de bisão. Segundo mandamento: Observar a direção do vento. Terceiro mandamento: Não ter medo. E o quarto é: Não sentir remorso, afinal a caça vai ser o nosso alimento. O alimento que vai nos dar força para prosseguir.
Nisto ele abaixou-se, pegou algumas folhas do chão e jogou-as para cima. As folhas caíram, indo para o lado esquerdo, ele com um olhar penetrante de quem entende o seu oficio, disse:
— O vento zéfiro é que está prevalecendo no momento, um vento calmo que vem do leste, temos que procurar uma caça, ficando do lado oeste, onde o sol se põe. Dizendo assim ele abaixou-se e pegou umas folhas de uma planta no chão.
— Não temos sal, este tempero será ótimo para dar sabor a nossa caça. Fomos caminhando, agora com cuidado e chegamos em uma clareira.
Diversos porcos do mato estavam a pastar, displicentes.
— Vejam, que bela caça temos aqui, vamos andar em volta, naquela direção. Eles não irão sentir o nosso cheiro. Temos que estar contra o vento. Se eles sentirem o nosso cheiro vão fugir. — Órion disse baixinho.
Devagar começamos a rodear em direção ao melhor local, onde seria mais fácil conseguirmos capturar os bichos. Bem devagar, Órion abaixou-se, pegou um pedaço de madeira parecendo com uma lança e começou a esfregar sua ponta contra uma pedra.
A ponta do bastão logo ficou afiada e brilhante; Ele sorrateiro pediu com um gesto que fizéssemos silêncio. Deslizando pelo chão feito uma cobra, foi em direção dos javalis.
A floresta estava quieta, como se alguma coisa extraordinária, estivesse prestes a acontecer, nem os pássaros cantavam. Rastejando ele aproximou-se dos bichos, que comiam tranqüilos. Então, Órion levantou-se e com um grito, paralisou a floresta e arremessou sua lança. A lança viajou por alguns segundos no ar e foi direto no animal, que foi trespassado pelo artefato. O animal sem conseguir correr ficou parado uivando, enquanto o resto se dispersava por entre a mata fechada. Órion correu em direção ao bicho que emitia grunhidos e chegando perto, ajoelhou-se, fez uma cruz na testa. Sem perder tempo, levantou sua mão esquerda e desferiu um poderoso golpe que acertou a cabeça do animal, fazendo-o parar de uivar.
Ele levantou-se, puxou das vestes um punhal e cravou no coração do javali. Fomos aproximando, eu e Electra. O sangue escorria pelo chão, um sangue vermelho escuro, Órion olhou para trás e falou:
— Pronto, agora já temos o que comer.
Segurando firme sua presa, puxou a lança e começou a retirar o couro do animal, sentamo-nos em volta apreciando o trabalho do velho caçador.
Ele com habilidade, após retirar todo o couro do bicho, fez uma incisão na barriga e com as mãos começou a arrancar as entranhas; tripas,coração, fígado, tudo ele retirava e jogava para os lados. Depois de limpar a caça completamente, disse:
— Vamos voltar ao rio para lavarmos esta bela presa. Levantou-se pegou a lança e mais uma vez trespassou o bicho dizendo:
— Pronto, agora o trabalho é seus, coloquem no ombro e vamos voltar, e levantando a caça com facilidade, colocou uma ponta da lança em meu ombro e a outra ponta no ombro de Electra. Até que não estava muito pesado.
Caminhamos de volta ao rio, chegando lá, Órion retirou de nossos ombros o animal e ajoelhando-se na beira d’água, começou a lavar na correnteza nossa caça. Eu pensei:
“E fogo”? - Como vamos fazer para preparar nosso jantar, se não temos fogo? ”
Órion, depois de lavar o javali e parecendo adivinhar meu pensamento, falou:
— Bem, agora vamos fazer fogo para assar nossa comida.
Dizendo assim caminhou até a entrada da floresta, pegou uns pedaços de madeira e com um olhar em nossa direção pediu:
— Vocês, peguem bastante folhas e madeiras para agente fazer uma bela fogueira. A noite está chegando e o fogo que vai cozinhar nossa comida, também servirá para afugentar os bichos da floresta, até que o sol da manhã chegue de novo.
Saímos em direção da floresta e começamos a catar todo tipo de gravetos e folhas, levando-os para a beira do rio. Órion parecendo aprovar nosso trabalho, falou com firmeza:
— Pronto, está bom.
E de cócoras , pegou um graveto e começou a esfregar entre as mãos sobre um pedaço de madeira.
Com muita força e agilidade ele continuou com sua arte de fazer fogo, até que em certo momento, começamos a ver uma fumaça branca sair da madeira, ele continuou esfregando com mais força ainda, então uma brasa pulou da madeira sobre as folha secas. Órion largou os gravetos e começou a soprar. Soprou, soprou, soprou, até que uma chama se fez. O fogo começou a pegar, fazendo as folhas crepitarem e Órion começou a jogar a lenha que havíamos recolhido na floresta. Dai em um instante, havia uma imensa fogueira. Aproximamos, Órion levantou-se e tirando do bolso da calça as ervas que havia recolhido começou a esfregar no javali. Depois, colocou dois galhos em forma de Y de um lado e do outro lado da fogueira e trouxe a caça trespassada pela lança, colocando-a sobre o fogo. Sentamo-nos em volta da fogueira. Electra com os olhos azuis brilhando na noite que chegava falou de um jeito bem tranqüilo:
— Se eu soubesse que vocês queriam fazer fogo, eu teria feito bem mais rápido.
Tirando seu aparelho do bolso, o que ela havia usado para conversar com o seu povo, continuou:
—É fácil fazer fogo.
E apontando sua arma para algumas folhas que restavam no chão, fez um feixe de luz sair daquele aparelho. Era uma luz linda; azul com seu interior dourado e as folhas começaram a queimar. Órion num pulo gritou:
— Bruxaria, bruxaria!
Eu me levantei também assustado e Electra calmamente disse:
— Calma gente, isto é um raio laser, não faz mal nenhum, nós só usamos isto para fazer fogo, lá no lugar de onde eu vim.
Então a luz se apagou e as folhas continuaram a arder em chamas.
Milhões de estrelas estavam soltas no céu. Electra, um tanto pensativa, começou a contar para nós uma história.
— Vocês estão vendo aquela constelação ali do lado que o sol nasce? Eu vou contar um segredo para vocês. Vocês prometem guardá-lo para sempre?
Eu calado olhei para ela, os olhos dela brilhavam como a luz dos astros.
— Prometemos. — Eu e Órion respondemos imediatamente.
Ela voltou a olhar para o céu que estava escuro e cheio de pontinhos piscando. Levantando a mão, apontou para uma estrela super brilhante que havia acabado de surgir no céu ao leste.
— Eu vim de um lugar que fica bem próximo daquela estrela. — Ela confessou.
Eu me virei e fazendo cara de espanto, falei:
— Verdade?
Ela continuou:
— Este é um segredo que ninguém deve saber. Eu às vezes fico com saudade de meu mundo, porém eu tenho uma missão a cumprir. Vocês sabiam que além daquela estrela, existem milhões de outras estrelas, com lugares parecidos com este, em que vocês vivem? Eu me sentei agora realmente assustado e um pouco atordoado pela história, pois até aquele momento, eu imaginava que só havíamos nós, os humanos no universo. Porém, me recobrando do susto, perguntei apenas para confirmar minha suspeita:
— Você não é humana? Você anda passeando pelo universo? Você conhece todas as estrelas?
Olhando para mim, ela voltou a falar:
— Sim conheço diversos mundos... Porém o meu destino é apenas passear semeando vidas, pelos mundos onde ando. Já viajei por lugares que ainda estão apenas em formação; têm apenas árvores, flores e rios. Outros onde existem apenas animais primitivos; dinossauros, répteis e homens que ainda vivem nas cavernas. Outros mundos civilizados, parecidos com o meu, onde os homens sabem voar e transportam-se em máquinas pelo universo...
Antes dela continuar, eu disse:
— Não acredito, como funciona tudo isto? Por que você veio parar aqui na terra? - Ela olhando de uma forma eterna, disse:
—Minha missão é povoar os mundos, trago sementes para melhorar a condição de vida dos lugares por onde passo e deixá-los mais belos.
Dizendo assim, ela fechou os olhos e ficou imóvel. Eu e Órion, calados, ficamos olhando para o misterioso universo infinito, todo aberto em frente dos nossos olhos. Senti-me tão pequeno, que até deu vontade de chorar.
Por bem dizer e pela verdade, nós em nossa divina ignorância, não sabíamos nem mais o que perguntar. Ficamos calados, apenas ouvindo o crepitar dos galhos na fogueira, assando nossa carne. Depois de uma profunda meditação, Órion disse, fazendo-nos despertar daquela grande viagem:
— Parece que já podemos comer
Levantou-se, foi até o javali, que agora estava bem assado sobre a fogueira, cortou um pedaço da carne e provou dizendo:
— Hum, deliciosa.
Eu me levantei, fui também até a fogueira, peguei um pedaço de carne que Órion me oferecia e comi. Estava deliciosa mesmo. Não esperando que fosse aceito, fiz um convite:
— Electra, venha cá experimente para você sentir como é gostoso!
Electra levantou-se e chegando até onde estávamos com um sorriso disse:
— Deixe-me provar o que vocês comem aqui na Terra. De onde eu vim agente gosta muito de vitaminas artificiais que são em forma de comprimidos.
Levantando sua mão segurou um pedaço da carne de javali e levou a boca. Depois de mastigar e engolir olhou para nós e disse:
— Gostosa demais esta comida.
A partir daí sentamo-nos no chão e devoramos o nosso jantar. Depois de comermos, bebemos água fresquinha do rio, deitamo-nos em volta da fogueira para dormir sonhando com um lindo céu cheio de estrelas misteriosas piscando e iluminando outros mundos muito além de nossa vã imaginação.


O RETORNO

Era manhã bem cedo, acordei com uma tremenda algazarra que os pássaros faziam nas árvores que nos rodeavam. Era canto de todos os tipos, uma verdadeira alegria dos alados. Olhei para os lados não vi Órion. Neste momento, Electra começava a acordar também. Passado algum tempo, Órion veio surgindo com os cabelos e a barba, pingando água.
— Eu acordei e fui tomar um banho, a água está um gelo. — Ele comentou.
— Eu acho que vou fazer isto também. — Falei.
Fui, tirei a roupa e pulei na correnteza, um gelo só. Nadei batendo os braços e as pernas com força para esquentar. Depois, quando me senti cansado, saí da água tremendo de frio. Voltei para o lugar onde havíamos dormido; minha cabeça raspada respingava água por todos os lados.
Órion, apontando seu braço, disse soberano:
— Vamos pessoal, temos que ir naquela direção o sol está nascendo ali, portanto do outro lado é o oeste, nossa cidade fica para o norte; Ontem a noite eu observei a estrela do norte daquele lado, então com certeza é por ali que devemos seguir viagem.
Electra estava mexendo em seu aparelho, como ela o chamava. Levantou-se e com um ar desolado, disse:
— Nada, não consigo me comunicar com minha nave.
— Vamos pessoal. — disse Órion
E foi caminhando para o norte. Antes de segui-lo, fui até o que restou da fogueira, tirei a lança e jogando as sobras de nossa caça fora, lavei-a bem nas águas do rio e fui seguindo Órion, fazendo da lança uma espécie de cajado.
Electra colocou seu aparelho no bolso da calça prateada e embrenhamos novamente na floresta. Era uma caminhada difícil, havia muitos cipós e raízes, que atrapalhavam agente andar direito. Órion com sua faca ia cortando o que podia pelo caminho. Caminhando por aquela selva, eu e Electra subimos em um tronco caído no chão, nisto eu senti que o tronco se moveu e com uma velocidade tremenda, senti meu corpo ser lançado ao ar, literalmente voando. Nós fomos arremessados, com muita força, em direção a uma árvore. Enquanto voava, olhei para o lado e vi Electra voando junto comigo. Fomos aproximando daquela árvore e batemos forte, caindo em um pouso atabalhoado. O estrago só não foi maior, pois fomos amortecidos pelos cipós que desciam dos galhos da árvore e caímos no tapete fofo de folhas que cobria o chão da floresta. Deitado no chão forrado de folhas, pelo menos senti que estava inteiro e quando fiquei em pé, olhei em direção de onde havia partido e vi Órion sendo enrolado por uma cobra gigantesca. O monstro que havia provocado nosso vôo.
Os dentes afiados saiam da boca daquela cobra e sua língua elétrica foi em direção de meu amigo. Corri até onde a lança tinha caído, pequei-a com firmeza e soltando um grito, como havia aprendido com Órion, lancei-a em direção da cabeça do monstro. Para minha surpresa e por pura sorte, a lança cravou no céu da boca do réptil impedindo-a de fechá-la. Da distancia em que estava notei que Órion, agora completamente enrolado pela serpente, estava roxo, porém cravava sua faca no couro da barriga do bicho, com toda sua força. Mais alguns instantes e ele seria moído completamente.
Electra levantou-se e correndo até onde eu estava, tirou seu pequeno aparelho do bolso e mirou na cabeça da serpente gigante. Aquele pequeno fio de raio azul saiu em direção daquela cabeça enorme e triangular do bicho e começou a percorrê-la.
Por onde passava, o raio ia deixando um sulco, de onde saia uma fumaça esbranquiçada, até que chegou em um dos olhos do animal. O bicho soltando um imenso silvo perdeu o controle de seus músculos, soltando nosso amigo no chão.
Órion caído, mal conseguia respirar, enquanto aquele monstro gigante e verde saia se arrastando com um assovio repleto de dor, misturando-se com a vegetação espessa da mata circundante..
Fomos até nosso amigo, que disse ainda meio sem fôlego:
— Está tudo bem comigo, um grande obrigado para vocês dois por terem me salvado a vida; vamos, temos que continuar.
Nisto levantando-se, começou a andar meio sem prumo e cambaleante. Naquele momento, percebi que meu amigo era feito de pedra, pois depois de passar por tal situação, ainda tinha forças para seguir em frente.
E passou por minha cabeça: “É assim que os homens devem ser, cheios de força para lutar até o limiar da morte.”
E nós voltamos a andar, seguindo-o. Andamos muito. Minha camisa já estava ensopada de suor. Olhei para Electra que estava com o rosto todo vermelho, afogueado.
Depois de caminharmos meio dia por entre as árvores da floresta, elas começaram a ficar escassas e chegamos a um vale. Era uma paisagem desoladora, era como se tivéssemos chegado à lua. Órion parou, olhou para nós dizendo:
— Que lugar estranho; Vamos parar para descansar um pouco.
— Sim. — Eu e Electra respondemos em uma só voz.
Electra olhou para mim e completou:
— Apollo está todo molhado de suor eu também estou exausta, vamos beber água e dar um tempo para podermos continuar nossa viagem.
Órion que havia retirado o cantil da mulher que era a guardiã da cela de onde escapamos, ofereceu-nos água, falando:
— Bebam pouco, pois só temos esta aí.
Eu bebi, passei para Electra e deitei na areia branquinha daquela planície lunar. Fiquei olhando o céu. Observando atentamente. Nisto, comecei a perceber um pontinho crescendo diante dos meus olhos e estava em alta velocidade, pois ficava maior a cada instante e aproximava-se cada vez mais rápido.
—Olhem. — Gritei
— Uma coisa vem voando em nossa direção!!!
Electra e Órion olharam. A coisa se aproximou e eu ouvi uma risada inconfundível.
Era Hermídia que vinha montada em um enorme dragão verde e alado.
— Vamos correr, vamos correr Apollo, e Electra,vamos,vamos. — Gritava Órion.
Começamos a correr em direção a algumas rochas, quando de repente uma imensa bola de fogo passou por sobre nossas cabeças e caiu no chão em frente da gente, deixando tudo em chamas. Ouvi outra gargalhada horrível. Ficamos parados enquanto a chama ardia em nossa frente. Naquele momento começou a chover bolas de fogo em nossa volta nos cercando.
As bolas de fogo caiam e se transformavam em um rio de chamas vermelho-esverdeado.
Órion, disse:
— Estamos perdidos.
E eu completei:
— E literalmente fritos.
Aproveitando a nossa falta de ação, a bruxa veio em um vôo rasante e lançou uma rede sobre nós. Imediatamente fomos içados e deste jeito, fizemos a primeira viagem a bordo de um dragão.
Começava a escurecer e os primeiros astros começavam a iluminar a abóbada celeste. Continuamos nossa viagem dependurados na rede e pelo menos a velha bruxa havia parado de soltar suas terríveis gargalhadas. Nesta viagem insólita, começamos a chegar em um local onde o céu começou a ficar de todas as cores. Era uma paisagem onírica... Azul, rosa, roxo, verde, amarelo, vermelho, era uma mudança indefinida de cores, realmente deslumbrante. Um céu multicolorido. Electra olhando para agente, falou:
— Estamos no meio de uma aurora boreal.
—Sensacional. — Falou Órion.
— Realmente extraordinário. — Eu disse e continuei
— Eu não percebi que agente havia andado tanto, ido tão longe, a velha bruxa deve estar nos levando de volta para a cidade de ouro, não é?
— Deve ser. Falou Electra, concordando com minha pergunta tola.
E voltamos a ficar calados apenas observando o show de luzes e cores. Depois de certo tempo o céu voltou a ficar normal e a noite ficou completamente escura, só ouvíamos a respiração do Dragão, ofegante pelo peso que suportava e pelo longo vôo que fazia.
A bruxa falou alguma coisa e o Dragão soltou uma bola de fogo iluminando toda a extensão da noite, depois voltou a ficar tudo escuro, ao longe eu pude ver algumas luzes piscando no chão. Era a cidade de ouro. Sobrevoamos a praça principal e o dragão nos levou para trás do palácio da bruxa. Até que para um dragão o pouso foi bem tranqüilo. Primeiro ele ficou batendo suas imensas asas, pairando no ar; segundo, abaixou-se suavemente até colocar-nos no chão. Fomos imediatamente cercados pelas mulheres guerreiras. Enquanto elas retiravam a rede que nos aprisionava, ouvimos Hermídia dizer:
— Levem-nos e alimente-os bem, eu os quero bem gordinhos para a festa que faremos amanhã.
Desta forma, fomos levados de volta à cela escura e fria. Fomos atirados lá dentro e quando a porta foi fechada, a escuridão chegou. Estávamos de volta ao começo. Uma loucura. Eu olhei para Órion e para Electra, sem enxergá-los direito.
Electra mexeu em seu bolso e tirou a sua luz divina. Ficamos iluminados. Lá no fundo, existia uma esperança mais forte dentro de mim. Levantei-me e comecei a pensar como iríamos sair dali. A cela escura, tudo negro. “A vida é negra” — pensei.
Electra continuava a mexer com sua coisa. Passados alguns segundos, ela disse radiante:
— Acho que agora estou conectada com meu povo!
O aparelho que ela tinha entre as mãos começou a brilhar. Então ouvi uma voz:
— Electra, estamos te procurando. Acho que acabamos de localizá-la.
Electra com satisfação, exclamou:
— Sim, estou aqui!
Entretanto o aparelho ficou mudo de novo e ela olhou para nós com um rosto, agora sombrio e sem esperança, falando abatida:
— Acho que perdi a conexão, novamente. Aqui onde estamos é muito fechado e meu aparelho não consegue fazer a conexão direito!
Nisto a porta da prisão voltou a se abrir, Electra apagou o seu aparelho mais do que rápido. Uma mulher guerreira entrou e deixou uma cesta no chão.
Com a claridade que vinha da porta aberta pudemos ver que havia maçãs, bananas, abacaxis, laranjas e diversas outras frutas tropicais. Quando a porta se fechou, Electra comentou meio cansada:
— Eu preferia carne de javali!
Eu e Órion sorrimos.
Sem nada para ter o que fazer na escuridão infinita, deitamo-nos e logo dormimos afetados pelo cansaço de nossa aventura infrutífera.


UM NOVO DIA

Depois de uma noite cheia de pesadelos fomos acordados por diversas mulheres guerreiras. Parecia que havia algo errado. Fomos conduzidos por galerias estreitas até sairmos do Castelo de Hermidia. Fomos colocados em um carroção puxado por quatro cavalos negros que reluziam ao sol da manhã, parecendo os cavalos da morte. Após certo tempo, chegamos a um local que parecia com um estádio. Marchando velozmente, os cavalos entraram por um grande portão. Fomos retirados do carroção e uma das guerreiras amazonas disse:
— Hoje é dia de festa e vocês serão o alimento dos gatinhos de nossa rainha.
Fomos levados por um corredor e logo estávamos no centro de uma arena. Milhares de mulheres estavam sentadas nas arquibancadas gritando, parecendo loucas.
Uma verdadeira multidão nos saudou em alvoroço, uma verdadeira bagunça.
Nós três ficamos juntos no centro daquele palco gigante. Eu olhei e via alguns meninos no meio daquela multidão de mulheres.
Sem entender direito, exclamei:
— Parece que estou vendo alguns meninos no meio das mulheres, entretanto não vejo nenhum homem, estou enxergando direito?
Órion , retrucou:
— Sim, está. Aqui é uma sociedade onde só existem mulheres, os meninos que nascem ao ficarem adultos e procriarem, são mortos em sacrifícios aos deuses dente de sabre. Aqui só é permitido viver mulheres. É um mundo governado pelas mulheres.
Por algum motivo a balburdia aumentou, havia gritos histéricos e houve uma verdadeira ovação. Olhamos para onde parecia ser o centro do teatro e vimos Hermídia chegando e sendo saudada de uma forma efusiva. Ela vinha acompanhada de seus gatos. Bem devagar ela veio andando e seus gatos feito um tapete de animais, acompanhavam-na bem lentamente. Ela veio, sentou-se numa imensa cadeira dourada, seus gatos deitaram-se em volta, como em um ritual. Ela lentamente levantou-se e num gesto com a mão, fez toda a algazarra parar. Dava para ouvir até o barulho das moscas voando em nossa volta. Ela emitindo uma voz fina e aguda começou a fazer um discurso.
— Hoje é dia de festa. Hoje nós temos aqueles três ali no centro de nosso altar que devem ser apenas os primeiros de uma série, a alimentar nossos poderosos gatinhos, que protegem nossa cidade, nossa cultura e nossa raça, de todos os males do universo.
Eles que são a nossa força viva o alimento de nosso corpo com seu sangue e a proteção de nossos espíritos com seus espíritos. Eles que nos guiam nas trevas da existência.
Dizendo assim ela sentou-se e com sua mão direita comprida e esquelética, levantou um sino e começou a balançá-lo. Assim os gritos recomeçaram e estavam mais altos do que nunca.
Uma imensa porta cheia de grades começou a ser aberta, dela surgiram imensos tigres com dentes de sabre. Um uivou aterrorizando-nos. Eles começaram a sair bem devagar daquela porta gigante. Vinham caminhando lentamente; os olhos vermelhos, as bocas abertas, vermelhas, sedentas de nosso sangue. Saiam tantos do portão que eu nem pensei em contá-los. Órion olhou para nós e disse:
— Apollo, Electra, corram, fiquem naquele canto e tentem sair daqui escalando as paredes. Eu não via chance de escaparmos, estávamos realmente perdidos. Nisso, eu e Electra, pusemo-nos a caminhar para o local que Órion havia nos indicado, bem devagar para não chamarmos a atenção dos bichos. Órion meteu a mão na cintura e tirou sua adaga, uma arma de lâmina larga, curta e pontiaguda, iluminada pelos raios de sol.
E eu pensei:
“É impossível sobrevivermos aqui, como enfrentar dez, quinze ou vinte animais famintos e poderosos, quase de nosso tamanho e selvagens?” — Fomos caminhando, então percebi que Electra estava com o seu comunicador na mão. E ela começou a conversar com aquele aparelho. Ouvi uma voz dizendo através daquela coisa:
— Nós te localizamos, estaremos aí em pouco tempo!
Ela olhou para mim com os olhos radiantes, brilhando de satisfação e alegria.
Quando encostamo-nos no enorme paredão de pedra da arena, um dos imensos “gatinhos” de Hermídia, resolveu atacar. Com um uivo assustador ele saltou voando em direção de Órion. Então Órion num salto acrobático saiu de sua direção, porém a pata do gigantesco animal tocou em seu ombro, arrancando um pedaço de sua camisa e uma grande pedaço de carne do seu ombro.
O bicho de uma forma inesperada, apenas tocando o chão do outro lado, voltou a investir em direção de Órion e com um pulo espetacular caiu sobre meu amigo. Os dois começaram a lutar no chão, eu vi Órion cravando sua faca diversas vezes no animal. Continuaram rolando pelo chão de areia. Então pararam de movimentar-se.
A multidão gritava a todos os pulmões com histeria. Passados alguns segundos que pareceu uma eternidade, alguém no chão começou a movimentar-se. Era Órion que se levantava tirando o portentoso bicho de cima dele. A gritaria parou nas arquibancadas. Mal deu tempo dele levantar-se e outro tigre avançou em sua direção. Nisso eu olhei para Electra que olhava para o céu. Do local para onde ela olhava, vi surgir um prato prateado, girando. Parecia um prato emborcado sobre uma mesa. Aquela coisa vinha girando e os raios do sol refletiam-se nele. Ele veio e parou sobre nós. Algumas mulheres guerreiras perceberam e começaram a correr assustadas, pelas arquibancadas. Na arena outro animal avançava em direção de nosso companheiro. Electra com um sorriso nos lábios falou em seu aparelho:
— Pai, ainda bem que você chegou.
Nisto o outro bicho pulou sobre Órion, que com uma elasticidade fantástica, desviou-se.
Eu agora não sabia para onde olhar se para o prato que girava sobre nós ou para a luta que estava acontecendo.
Nisto olhei para onde Hermídia deveria estar e vi que ela estava fugindo, ela corria tão rápido que os seus gatos nem conseguiam acompanhá-la. Electra olhou para mim e disse:
— Meu povo chegou para nos ajudar. Vocês virão comigo em minha nave, legal?
Eu olhei para ela meio desconfiado. Foi então que uma imensa luz saiu da nave e atingiu Electra em cheio, começando a levantá-la no ar. Ela foi sendo levada pelo raio que vinha de sua nave.
Voltei os meus olhos novamente para Órion que havia acabado de matar outro tigre.
Até os bichos, agora, estavam meio parados sem entender o que acontecia. O silêncio era total. Electra foi sendo levada para uma porta que começou a abrir-se no veiculo espacial. Chegando lá, ela ficou em pé e apontou sua mão para mim. Um grande raio veio em minha direção e senti meu corpo ser sugado do chão. Comecei a flutuar pelo espaço como em um passe de mágica. Sentia-me leve e com o corpo quente. O estádio agora estava completamente vazio, as mulheres guerreiras corriam para todos os lados. Vi um outro portão começando a ser aberto, dele veio saindo Hermídia, montada em seu dragão verde que soltava labaredas vermelhas pela boca. Ela começou a voar sobre o estádio e fez o dragão lançar uma imensa bola de fogo em minha direção. A bola de fogo passou a poucos metros do raio que me conduzia e foi acertar o centro da nave para onde eu estava sendo levado. Senti um imenso impacto e fiquei sendo sacudido no ar. Hermídia emitiu uma tremenda gargalhada e o dragão voador lançou outra bola de fogo que novamente bateu no disco voador e a trepidação aumentou ainda mais.
Ocorreu-me um pensamento sinistro:
“Ela vai derrubar a nave de Electra, e se eu cair desta altura em que estou não vão sobrar nem meus ossinhos para contar a história.”
A nave de Electra, num rápido movimento fez uma manobra espetacular no ar, me carregando para mais alto ainda. Hermídia voava em seu dragão e agora parecia meio desnorteada. Fui subindo até que Electra segurou em meu braço e eu fiquei em pé na porta de sua nave. Electra gritando falou para seu... Pai?
— Aquele lá embaixo é meu amigo também, pai!
Então um outro raio foi lançado em direção de Órion, que atingindo-o em cheio começou a levantá-lo.
Um dos tigres ainda tentou agarrá-lo com sua imensa pata, porém ele agora parecia estar salvo. Hermidia e seu dragão localizaram-nos no céu novamente e outra bola de fogo foi arremessada em nossa direção. Quando chegou, acertou a carcaça da nave, deixando-nos balançando no espaço, feito uma gangorra descontrolada. Órion vinha subindo através do raio de luz intensa. Quando ele chegou, Electra segurou em sua mão e puxou-o para dentro de onde estávamos. Havia um grande ferimento em seu ombro direito, o sangue e a areia ensopavam sua roupa e sua barba. Havia sangue por todos os lugares em seu corpo. Quando entramos no aparelho voador, a porta começou a se fechar suavemente. Era um lugar espetacular, tudo limpo, a luz era clara como a luz do dia, uma grande janela mostrava o que estava acontecendo lá fora. Sentado em um banco de um material reluzente, estava uma pessoa. Bem eu nem posso dizer que era pessoa. Todos ali dentro tinham cabeças enormes e brancas parecendo cabeças de ovo, com os olhos grandes, rasgados e negros.
O queixo era fino, afunilado, o nariz bem pequeno e os corpos magros vestindo um macacão prateado. Um ser que estava sentado em frente da janela que mostrava tudo lá fora, falou:
— Pai, posso atirar?
A nave foi sacudida mais uma vez em um grande solavanco, eu imaginei que era mais uma bola de fogo lançada pelo dragão de Hermidia. Então o homem das estrelas falou para seu filho:
— Pode. Raio laser, magnitude quatro.
Eu fiquei olhando para a tela gigante em minha frente e vi um raio azul saindo em direção do dragão e da velha bruxa. O raio rapidamente acertou o dragão, que meio desorientado ficou balançando no ar com suas imensas asas e foi caindo feito um balão vazio, bem devagar, no meio da arena onde se encontravam os “gatinhos” de Hermídia.
Quando o dragão bateu no chão meio atordoado, os tigres partiram para cima dele, um mordia o rabo outro pulou sobre o seu pescoço, o dragão começou a cuspir fogo e logo queimou uma das feras. O bicho com labaredas enormes começou a uivar de dor, tão alto, que podíamos ouvir de dentro do disco voador. Hermídia pulou para o chão e começou a correr em direção ao portão por onde havia saído com seu dragão voador. Um dos tigres perseguindo-a, com um grande pulo jogou-a no chão e começou a carnificina. Fechei meus olhos para não ver. Enquanto isto o dragão lutava para não ser morto. Mas o que pode fazer um dragão atordoado no meio de tantas feras selvagens? O corpo do dragão começou a ficar coberto de sangue que de onde eu estava observando em uma tela gigante, parecia ser, um sangue verde. Hermidia, coitada, eu nem queria mais olhar. Então senti que a nave onde nós estávamos, começou a subir. Eu sentia uma força me pressionando contra o chão da nave. Electra olhando para mim, disse:
— Apollo, estes são meus pais!
Eu olhei meio desconcertado para aquele povo que tinha vindo das estrelas e falei:
— Prazer em conhecê-los.
Ao levantar minha mão para cumprimentá-los, apertei a mão do ser que ela havia chamado de pai, era uma mão fria como a mão de um morto.
Depois ela me apresentou sua mãe, que também era igual o seu pai e me levou até o seu irmão que comandava a nave, que também era tão feio quanto os seus pais. Todos eram feios demais.
Órion estava sentado num canto da espaçonave sangrando. O pai de Electra foi até ele e colocando a mão em volta do seu ombro falou:
— Vamos consertar isto aí?
Órion foi levantado, o sangue pingava pelo chão. O pai de Electra foi até um ponto da nave, mexeu em um compartimento e de volta, trouxe um pedaço de material reluzente.
Chegando próximo ao ombro de meu amigo, disparou um raio vermelho. Imediatamente a carne arrancada pelas feras começou a se restabelecer. Tudo começou a voltar para o lugar e em instantes, o braço de Órion estava recuperado. Electra num suspiro comentou:
— Bem, agora chegou a hora de minha transformação, não se assustem.
Imediatamente, aquela menina linda que tinha estado conosco tanto tempo, começou a se transformar. A cabeça começou a ficar grande, um ovo gigante, o corpo começou a encolher, parecendo o corpo de uma formiga o queixo ficou fino, os olhos negros e enormes ocupando um quinto da face, eu não podia acreditar no que estava vendo. Em questão de minutos ela estava completamente transformada. Daquela menina linda, agora não restava nada. Ela era apenas mais um dos seus parentes. Diante de nossos olhos assustados, ela disse:
— Vamos fazer uma viagem fora da Terra, amigos?
E continuou:
— Vocês vão gostar. HD9YZ levante vôo e nos leve até fora da Terra. — Ela disse para seu irmão.
A nave começou a subir, passamos por cima de montanhas imensas e eu via pela grande janela as árvores ficarem cada vez menores, me sentia preso ao chão, enquanto o disco voador era impulsionado para cima. As árvores começaram a ficar bem pequenas e nossa velocidade aumentava em direção ao universo. Um calor atingiu o local onde estávamos. Eu via a Terra ficando distante e senti-me flutuando no espaço, como se tivesse asas, feito um beija flor.
—Olhem, estamos fora da Terra, não é lindo? — Electra falou.
— É... — Disse Órion com um ar de tolo e completou:
— A Terra é azul!
Pude ver os mares e os desertos todos juntos, uma loucura total. Comecei a sentir um pouco de medo por estar tão longe de casa.
Electra comentou:
— Pronto, agora que vocês conhecem o lado de fora de seu planeta, vamos voltar para casa. E com um movimento espetacular o nosso prato voador, voltou para a Terra atingindo uma velocidade inacreditável. Electra virando-se para nós, disse:
— Vocês querem voltar para suas casas ou querem continuar a viagem com agente?
Eu imediatamente pensei: “Nem pensar, não quero ir com vocês para lugar nenhum, não somos da mesma raça, não nos parecemos, quero voltar para minha casa e dar um grande abraço nos meus pais e meus irmãos que são humanos como eu”.

Então respondi com todo carinho para minha amiga que havia virado um monstrinho:
— Não, Obrigado Electra, quero voltar para minha casa, estou sentindo saudades de minha família.
Electra resumindo falou:
— Está bem, vamos levá-los de volta para o lugar onde moram.
E eu olhei pela janela da nave que rapidamente, reentrou na atmosfera terrestre; lá embaixo ia passando uma linda vegetação com textura verde e amarela.
Electra olhando diretamente para nós, disse:
— Eu vou dar uns ovinhos para vocês cuidarem muito bem deles, certo? São ovos de cisne, na Terra vocês ainda não tem esta linda ave. Vocês deverão deixá-los na beira de um rio e cuidar bem destes ovinhos.
Ouvimos atentamente, enquanto Electra continuava a descrever o que seriam os ovinhos.
— Nascerão lindas aves deles, elas têm o pescoço comprido e são brancos feito a neve. Quando elas estiverem grandes e começarem a fazer o ritual do acasalamento com uma bela dança nadando nas águas dos rios, os seus pescoços juntam-se e transformam-se em um grande coração. Diga ao seu povo que nós viemos das estrelas, porém nós viemos em paz e procuramos levar o amor para onde vamos. Nós andamos por todos os cantos do universo, semeando a luz a paz e o amor.
Dizendo assim, Electra caminhou até seu irmão e virando para nós, eu e Órion, continuou a falar de uma forma bem tranqüila:
— Vocês são meus amigos e eu quero que vocês sempre fiquem dentro de meu coração. Meu nome é ELK4YX, meu irmão é o HD9YZ, meu pai, L8NGXYe minha mãe, MG8FMX.
Eu olhando para ela, pedi:
—Electra, eu quero ver você como eu te conheci, é possível? Aquela menina...linda.
Ela me olhando de uma forma branda respondeu:
— Não, agora eu sou do jeito que eu sou e não quero mais me transformar, não há mais necessidade, acostume-se comigo deste jeito.
Dizendo assim ela virou-se e foi em direção de seu irmão. Olhei pela janelinha do prato que voava e vi as montanhas passando em uma velocidade fantástica abaixo de nós, tudo parecia mover-se, estávamos em alta velocidade, voltando para casa.
Electra foi até onde seu irmão pilotava a nave, abriu uma portinha e pegou um cesto negro e brilhante, fazendo uma meia volta ela chegou bem próximo de mim e falou:
— Aqui estão os ovos!
Apertando um botão, a caixa se abriu e quatro ovos grandes apareceram. Ela me entregou aquela caixa de um material duro e bem diferente das caixas de madeira que eu conhecia. Coloquei-a embaixo do braço e agradeci pelo presente. Neste momento estávamos nos aproximando de uma das mais altas montanhas e passamos por cima, tudo cheio de neve. Eu apenas sentia tudo. E fomos em direção da cidade velozmente. Começamos a sobrevoar a pequena cidade, algumas pessoas lá embaixo nos viam e apontavam para cima em nossa direção O disco voador começou a balançar de um lado para o outro e eu disse:
— Quero ir para casa. Minha casa fica do outro lado daquela ponte ali embaixo.
Eu apontei minha mão para baixo, por cima das montanhas, pois agora, eu sabia onde estávamos. Então o prato voador fez um enorme circulo no céu indo em direção ao lugar que eu tinha apontado. Fomos flutuando pelo espaço e finalmente eu vi minha casa.
Meu pai estava plantando alguma coisa no canteiro lá de casa, junto com meus irmãos.
A Nave desceu silenciosamente até a uma altura onde podíamos pular para o chão, e um dos meus irmãos percebeu que estávamos chegando. Ele mostrou o objeto no céu para meu pai, e meu pai saiu correndo para dentro de casa. Eu o vi chegando da janela com sua velha espingarda enferrujada, apontando para onde estávamos. E a nave pousou silenciosamente em meu quintal. Eu fui descendo a rampa com meu amigo Órion e a caixa com os ovos embaixo do braço. Olhei para trás e lá estava minha amiga Electra, acompanhando o nosso retorno ao lugar que nos tinha criado. Ao tocar meus pés no chão, senti finalmente, uma vontade estranha de ser parte das estrelas, viajando pelo profundo universo. Órion desceu a rampa da nave e ficamos no chão firme. Meu pai e minha mãe me vendo de volta em casa saíram correndo em minha direção, enquanto isto a nave começou a levantar vôo em direção ao céu azul infinito, em busca de outros mundos para fecundar.
Eu fui agarrado e abraçado por todo mundo, enquanto Órion deitou-se no chão para contemplar o velho céu azul, cheio de mistérios. Enquanto isto, a nave que havíamos viajado, se transformava apenas em um pontinho de luz no céu.


EPÍLOGO

Ninguém, jamais irá acreditar em nossa história, por isto eu Apollo e Órion o caçador, decidimos guardar isto só para nós, também, ninguém iria acreditar na gente, não é?
Hoje eu sou um grande amigo de Órion, o caçador de estrelas e sempre saímos juntos para caçar. Estou ficando tão bom quanto ele na arte da caça. No mesmo dia que voltamos, colocamos os ovos na beira do rio como Electra recomendou e todos os dias íamos verificar como estavam.
Até que numa bela manhã, chegamos e só havia as cascas dos ovos pelo chão. Pensamos que eles tinham sido depredados pelos animais da floresta, mas qual não foi nossa surpresa ao olharmos para o lago.
Lá estavam quatro belos cisnes brancos, nadando alegremente, eu e Órion ficamos encantados com aqueles bichinhos tão majestosos. Agora simplesmente esperamos que nossa amiga do espaço um dia volte a fazer contato, para ela ver como seus cisnezinhos ficaram lindos. Sempre vejo Electra em meus sonhos. Espero que ela também me veja em seus sonhos, afinal, somos todos filhos deste universo infinito e encantado.
“Um grande abraço para todos os humanos que são filhos deste imenso universo infinito criado por Deus, e que amam e respeitam todos os seres e cuidam com amor e carinho desta imensa nave chamada Terra.”
Nossa Linda Nave Mãe.
Apollo e Órion, os Caçadores.


F i m